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Antes de adotar a mesma base do Chrome, o Opera era um navegador diferente demais dos… demais. Em versões anteriores, contava com gerenciador de e-mails e leitor de RSS integrado. Possuía um sistema que agilizava a navegação em conexões lentas e permitia uma personalização incrível (era possível, por exemplo, posicionar as abas do navegador em qualquer um dos quatro cantos da tela).
Veio a fome, veio a guerra, o Opera passou a adotar a base do Chromium (com isso, também deu suporte a extensões) e ele se tornou mais um genérico do navegador do Google. De uns tempos para cá, começou a travar em alguns computadores com Windows 10 e, por fim, está prestes e ser adquirido por um grupo chinês não muito reconhecido pela boa reputação.
Viúvas (e ex desenvolvedores) do que outrora foi o melhor navegador do mercado (e que ninguém usava) resolveram, com isso, lançar um novo melhor navegador do mercado (e que também, até agora, quase ninguém usa): o Vivaldi. Embora ele também tenha como base o Chromium (e aceite extensões da loja do Chrome), oferece outras funcionalidades que chama a atenção (como editor de notas rápidas e a possibilidade de alternar o local das abas, para qualquer parte da tela).
O 33 Giga bateu um papo com o co fundador da Vivaldi Technologies, uma empresa que tem sua equipe espalhada por países como Noruega, Rússia, Islândia. Diretamente dos Estados Unidos, Tatsuki Tomita respondeu, com muita simpatia, às questões da reportagem.
33 Giga: Há muitos e muitos browsers nos dias atuais: Chrome, Firefox, Edge, Opera. Por que lançar mais um?
Tatsuki Tomita: Há muitos browsers no mercado – mas todos eles são similares em funcionalidades e nos princípios de design. Nós sentimos que eles foram desenvolvidos para o mercado de massa, com uma interface ao usuário mínima e também com a possibilidade de controle muito baixa. O Vivaldi foi desenhado para satisfazer usuários de internet com mais discernimento. Pessoas que querem flexibilidade e que desejam poder escolher como navegar.
33: O Vivaldi lembra, em muitos aspectos, o Opera. Um exemplo é a personalização extrema da interface. É uma tentativa de manter o velho navegador vivo?
TT: Nosso objetivo é fazer o browser mais flexível e poderoso do mercado. Você tem razão quando diz que o antigo Opera oferecia uma experiência de customização muito grande e que tinha mais funções que outro navegadores. Por isso, nós pensamos que os antigos usuários do Opera estão gostando do Vivaldi e muitos estão optando por ele. De qualquer forma, nosso objetivo é seguir desenvolvendo e incorporando novas funções ao navegador, da mesma forma que a web segue se atualizando.
33: No Brasil, costumava-se dizer que o “Opera era o melhor navegador que ninguém usava”. De alguma forma, o Vivaldi quer preencher essa curiosa lacuna?
TT: Não desejamos ser o melhor software que ninguém usa. O objetivo é se tornar o melhor browser que muitas pessoas utilizam. (Risos)
33: Até o momento, tenho usado o Vivaldi por um mês e tenho gostado. Entretanto, sinto falta de alguns recursos como a sincronia de dados e um cliente de e-mail. Quando vocês vão implementar essas funções?
TT: Ótimo saber que você está gostando do navegador. Essas funcionalidades estão chegando, mas por enquanto nosso foco é velocidade e estabilidade. Depois que isso estiver resolvido, então daremos o próximo passo. Só não consigo te precisar quando tudo isso irá acontecer (nota da reportagem: até o fechamento da entrevista, o Vivaldi ainda estava na versão Beta 3.)
33: Como e quando nasceu a ideia de criar um novo browser?
TT: Foi coisa de 2,5 anos atrás. Discutíamos que não havia um navegador no mercado que gostássemos de fato. Nada com muita opção de personalização. Também sentíamos que havia muito mais pessoas como nós, sentindo falta de algo. E aí, vimos a oportunidade de criar algo para preencher o vazio.
33: Quantas pessoas estão envolvidas no projeto?
TT: Atualmente, há 18 engenheiros trabalhando no desenvolvimento dele.
33: E como vocês pretendem lucrar com o Vivaldi?
TT: Nós trabalhamos em parceria com ferramentas de busca bem como com empresas de e-commerce, que nos pagam comissões.
33: Qual você considera o melhor navegador do mercado? Exceção ao Vivaldi, claro.
TT: O melhor navegador depende do que você deseja e do que espera dele. Todos nós somos diferentes e desejamos coisas diferentes. O que é o melhor, para mim, não é necessariamente bom para terceiros. O importante é haver competição e escolha, para que as pessoas usem o que desejam.
33: Qual é a função que mais te agrada no Vivaldi?
TT: Particularmente, gosto dos comandos rápidos. O empilhamento de abas* e o painel web também são excelentes.
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*Em tempo: o empilhamento de abas é o tipo de função que é difícil entender como alguém pode usar. As guias ficam todas dispostas e agrupadas no navegador, meio que tudo junto e ao mesmo tempo, com uma página atrapalhando a outra – e o próprio usuário. Personalização tem limite – menos, é claro, para o novo Vivaldi. Vulgo antigo Opera.