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Mercado Livre, o boom dos sites de leilão e um pâncreas de pelúcia

Créditos: Reprodução / WebArchive.org
2 maio, 2021
Sérgio Vinícius

Estava lendo, aqui mesmo, que o Mercado Pago praticamente virou o Safra e lembrei do Mercado Livre de uns bons anos passados. Foi ali por volta de 1999, 2000, quando houve uma explosão de sites de leilão.

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Nessa época, aliás e mais ou menos, houve um “boom” de site de todo tipo: de namoro, de horóscopo, “site jovem” (tipo Fulano, Zoid e assemelhados), de e-mail (como o ZipMail), de paquera intercarros (PlacaMania ou ChapaMania?).

Mas os de leilão tinham um marketing bem agressivo (comerciais em TV, rádio, em outros sites, outdoor e até em faixas com aviãozinho sobrevoando praias). À época, Mercado Livre já era um dos mais populares nesse nicho.

E, no caso, leilão era leilão mesmo.

O caboclo acessava determinado site, metia lá algo para vender, dava um prazo x e o amigo internauta que desse o lance maior levava para casa – se não fosse golpe – o “algo para vender”.

Caso não tenha ficado claro, porque eu expliquei porcamente acima, vamos ao exemplo.

Supondo-se que João tinha um pâncreas de pelúcia e não queria mais. Ele entrava no site de leilões Lokau (belo nome) e cadastrava o bicho para venda. Pedia a partir de R$ 4 mil no pâncreas e dava 3 dias para encerrar a pendenga. O amigo internauta que estivesse interessado no troço, dava um lance maior ou igual a R$ 4 mil.

Depois de 3 dias, João encerrava o leilão, recebia o maior valor ofertado (quanto vale um órgão de pelúcia? R$ 15 mil?) e enviava o pâncreas para o vencedor. Fim. Bem simples.

Se eu não estiver muito enganado, apareceu tanto site de leilão no começo dos anos 2000, que tinha todo tipo de fórmula. Quem desse mais levava (o que me parece a mais correta), a reversa (quem dá menos leva), a do número exato (leva quem der o lance exatamente igual ao valor que está na cabeça do vendedor), a do valor único (quem ofereceu um preço que nenhum outro concorrente deu leva).

Havia, até, o da pessoa que colocava seu dinheiro a leilão e recebia em produto ou, principalmente, um produto que ele não queria. Algo parecido com o que ocorre com a OLX atualmente. É colocar algo à venda e aparece alguém oferecendo um patinete do Capitão América em troca.

Claramente, eu inventei o que se passa nos dois parágrafos aí em cima.

O fato é que havia fórmulas e fórmulas e sites e sites. Se você não ouviu falar de quase nada daí de cima, vai perceber que o motivo óbvio é que quase tudo deu exatamente em nada. Ou melhor, em fusões e fusões, em aquisições e rodadas de investimento e… bom, meio que só restou o Mercado Livre.

Ele deixou de ser site de leilão. Hoje, há tantas ramificações, braços (sua fintech está virando o Santander – o que é o correto, claro), serviços que dá para definir o Mercado Livre como… Mercado Livre mesmo. É uma das maiores empresas do País e tem de tudo, quase.

Lembro que, entre 1999 e 2001, época que passei do DGABC para a Revista W, em ambas as redações  (de tecnologia) ficávamos embasbacados com o tanto de dinheiro sendo investido em sites de leilão – ou melhor, sendo jogado fora. Era o que parecia para quem examinasse o mercado sem qualquer cuidado. E, na verdade, era mesmo.

É bem interessante ler as reportagens da época. Em uma delas, um especialista avisa que não vai ter espaço para todo mundo – Fusões agitam mercado de leilões virtuais. Claro que ele tinha razão. No rodapé, a Folha lista os principais:

De cabeça, lembro de uns cinco. Esse Gibraltar, talvez eu esteja confundindo com uma música daquele menino que fica resfriado à toa e toma bronca da vó.

O dinheiro era tanto que parecia o do Corinthians de 2005, de mentira ou o do Banco Imobiliário (que também é tudo a mesma coisa). Empresas e empresas “digitais” faziam combinados, aquisições, o diabo.

O UOL, por exemplo, envolveu US$ 20 milhões em um acordo formidável com o Lokau.com, que não faço ideia que fim levou e tá mais imortalizado (na minha cabeça) por ter virado quase homônimo de uma cerveja de superior calidad.

Vale ler a reportagem UOL e Lokau fecham acordo de US$ 20 mi. Parece outra vida. Talvez seja.

De qualquer forma, como disse o especialista ali em cima (e também nós, os repórteres caculés das redações de “informática”), era muito leiloeiro para pouco amigo internauta. Havia tanta gente interessada em vender – e comprar – pâncreas por R$ 4 mil ou R$ 15 mil quanto site de leilão na rede mundial de computadores.

Assim, não havia órgão de pelúcia que desse conta. Nem se fossem simpáticos rins (internacionalmente reconhecidos como mais gentes-boas que os pâncreas).

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Informática.etc é uma coluna sem um objetivo muito específico.

Mas, basicamente, vai relembrar nomes da tecnologia que fizeram muito sucesso há alguns anos – como Rapidshare, Last.FM, Flogão (isso existiu ou foi um delírio coletivo?), internet elétrica – e hoje andam meio esquecidos, como o Dia da Festa de Santo Reis.

E, se não der, pelo menos será relatada uma história sem pé e nem cabeça, como a daí de cima.

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