Obsolescência programada é uma estratégia dos fabricantes que faz com que a vida útil de um produto dure menos do que a tecnologia de fato permite. A ideia é torná-lo ultrapassado mais rapidamente e motivar o consumidor a comprar um novo modelo – aquele último e tão cobiçado lançamento das prateleiras.
Embora pareça ser uma prática dos tempos modernos, na verdade, ela é bem antiga. Um dos primeiros registros é da década de 1920, quando fabricantes de lâmpadas da Europa e dos Estados Unidos decidiram diminuir a durabilidade dos produtos de 2,5 mil horas de uso para apenas mil. Assim, as pessoas seriam forçadas a comprar o triplo de unidades para suprir a mesma necessidade de luz – você pode acompanhar esta história de obsolescência programada no documentário A Conspiração da Lâmpada.
De lá para cá, a estratégia continuou sendo aplicada. A questão é que, agora, os usuários sentem que estão sendo enganados pelas indústrias. E mais: se perguntam até que ponto o uso da obsolescência programada é legal.
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Obsolescência programada e perceptiva
Hoje, existem dois tipos de práticas dentro do contexto de obsolescência. São elas: programada e perceptiva.
“Na obsolescência programada, as funções se tornam obsoletas por causa da evolução do produto, tornando-o menos desejável ao consumidor”, diz Paulo da Silva Soares, professor de Engenharia Eletrônica e Automação na Universidade do Salesiano (Unisal). “Já a obsolescência perceptiva é quando o mercado faz com que o aparelho pareça fora de condições de uso quando não está.”
De acordo com Paulo, o envelhecimento de um produto é adotado por diversos setores da indústria. Entretanto, quando o assunto é obsolescência programada, celular é o dispositivo em que a estratégia é mais aplicada. Tablet e computador fecham o pódio. “Nestes equipamentos, as funcionalidades ficam obsoletas de forma muito rápida, como resolução da câmera, velocidade do processador, capacidade da memória”, conta.
Prática legal ou ilegal?
É difícil apontar porque as empresas utilizam a obsolescência. Para Paulo, a resposta é a seguinte: se o produto for durável, o consumidor não vai trocá-lo. “Trata-se de uma necessidade de sobrevivência da empresa. Do ponto de vista técnico, quando um produto é lançado, já têm equipes trabalhando em sua sucessão”, afirma o especialista.
Quanto à legalidade, é importante entender a intuição por trás da estratégia. “Se for uma jogada de marketing, quando a empresa induz o consumidor a comprar um produto mesmo com poucas funcionalidades novas, não há nada de errado. Agora, se a indústria diminui propositalmente a capacidade do aparelho, é ilegal”, explica Thiago Porto, técnico e representante da PROTESTE.
Aqui, vale apontar um exemplo: a obsolescência programada da Apple. Em 2018, ao admitir que reduzia a velocidade de processamento de iPhones antigos, a empresa acabou se complicando com os fãs. Tanto que, para limpar a barra, anunciou a redução no preço cobrado pela substituição da bateria em aparelhos fora de garantia.
O que você pode fazer
Na prática, é difícil para o consumidor perceber que está sendo vítima de obsolescência programada. “Ele até pode notar que o celular está mais lento, mas atribui o problema a um fator do dia a dia, como os aplicativos que passaram a exigir mais do processador”, exemplifica Thiago.
Agora, se você descobriu que um aparelho pode estar “sofrendo” com a estratégia, a dica é entrar em contato com o SAC da marca e explicar os problemas observados. Aponte o que você percebeu, como uma atualização que deixou tarefas triviais mais lentas. “Caso a empresa não se manifeste, o melhor é procurar órgãos que possam ajudá-lo, como o PROCON e a PROTESTE”, revela o especialista.
Para evitar uma possível obsolescência programada, você pode também fazer uma pesquisa antes de comprar. “Veja se consumidores antigos notaram problemas na marca ou em um produto específico. Se o comportamento se repetir, desconfie”, aponta Thiago. “Outra dica é se perguntar se de fato você precisa de um novo aparelho ou se ele aguenta mais alguns anos.”
Obsolescência programada: consequências
Os perigos da obsolescência programada podem ser maiores do que impactar a vida do usuário final. Isso porque, com os eletrônicos sendo descartados cada vez mais, a geração de lixo eletrônico também aumenta. Sem contar que os aparelhos possuem metais pesados que podem contaminar o ambiente, levando o caso a se tornar um problema de dimensão pública.
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