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Comprei uma impressora 3D para minha casa. E agora?

Créditos: Photo credit: Creative Tools via Visualhunt.com / CC BY
26 janeiro, 2016
Sérgio Vinícius

Eduardo Veríssimo* é entusiasta de novas tecnologias e autodidata. Ele está sempre com um novo projeto em desenvolvimento – seja aprender um idioma novo em três meses, tentar conectar objetos da casa para criar sua própria internet das coisas e criar objetos.

Graças a esse último motivo, Eduardo comprou uma impressora 3D para uso doméstico. No texto a seguir, ele conta do 33Giga como tem sido a experiência.

“Uma impressora 3D é um aparelho eletrônico que pode mudar a vida das pessoas de uma forma profunda. Com a impressão 3D, é possível materializar ideias, bem ali, na mesa. Foi com esse intuito que resolvi adquirir uma e vou descrever as primeiras semanas de experiência, depois que coloquei a impressora na tomada pela primeira vez.

Comecei construindo objetos para decoração, porque precisava fazer com que as pessoas em casas gostassem da ideia, pois como moro em apartamento pequeno, preciso disputar espaço. E a impressora, apesar de não ser muito grande, ocupa um bom espaço na mesa. Para quebrar resistências, fiz um scan 3D de uma estatueta da minha avó com o 123D Catch da Autodek e, em seguida, fiz uma réplica em miniatura. Achei que o resultado não seria expressivo, mas assim que minha avó viu o boneco, ficou maravilhada. Aí percebi que ninguém reclamaria.

Imprimi a estatueta em diversas escalas e o resultado era sempre o mesmo. Fiquei com um certo orgulho que o primeiro objeto não tenha sido uma cópia de modelos que se encontra na internet. Mas não parei por aí. Procurei corujas, coelhos e outro bichos que a minha avó adora. O efeito da impressora 3D para as pessoas parece um pouco hipnótico. De vez em quando eu a deixo trabalhando sozinha e, quando volto, observo minha avó, que quando se distrai me pergunta o que é aquilo na mesa aquecida. Eu mesmo viajo observando o plástico sendo depositado sobre a mesa aquecida, e não duvido que pessoas no mundo encarem esse momento como uma forma de meditação.

Ainda na primeira semana, um primo me visitou e fizemos uma impressão para ele de um suporte para o iPhone em forma de tentáculo. A falta de experiência fez com que eu o fizesse com um preenchimento muito grande, de quarenta por cento, e ele ficou muito denso. Essa densidade se traduziu em um grande tempo de impressão, algo mais que duas horas. Depois disso aprendi que quanto mais oco o objeto, mais rápida é a impressão, principalmente quando não é necessário suportar objetos pesados. Vale ressaltar que o ABS é um plástico que resiste muito bem ao peso, então não é necessário, na maioria dos casos, preencher os objetos. Além disso, acredito que mesmo que haja necessidade, é melhor planejar a peça de forma que seja possível recheá-la com outro material menos dispendioso e de características mecânicas mais convenientes.

O tentáculo foi o primeiro objeto que eu imprimi usando ABS e logo percebi uma das maiores causas de problemas para iniciantes na impressão: o descolamento da peça da mesa. Por sorte, nesse caso só causou um entortamento que não afetou sua estabilidade e ele funciona perfeitamente na mesa de trabalho de meu primo. No entanto, após tentar imprimir novas estatuetas para minha avó, ficou claro que não resolveria fácil essa questão. Pesquisando em fóruns sobre o assunto, aprendi que esse deslocamento é uma característica do ABS, e é necessário usar outras técnicas para manter a aderência. Em geral se usa fita kapton, cola bastão com certa composição ou suco de ABS. A fita kapton não resolveu o problema e foi logo descartado; o suco de ABS me pareceu suficientemente complexo para que eu o tentasse tão cedo; sobrou a cola bastão de polímero de n-vinilporrilididona que comprei em um supermercado e, para minha felicidade, deu certo e o chapéu do boneco ficou perfeito.

Uns dias depois, resolvi procurar por alguma coisa parecida com Lego. Sempre gostei desse tipo de brinquedo de encaixe, que podemos fazer o que der na telha. Procurei algo similar e acabei encontrando o Flexmesh, que tem vários tipos de peças que se encaixam e permitem que se crie coisas grandes.

Aprendi algumas coisas ao imprimir o FlexMesh. A primeira é que nem todo objeto se beneficia de camadas mais finas, de 5mm, o que, em tese, aumenta a resolução da impressão de forma que ela fica menos estriada. Demora mais, e sim, o acabamento fica melhor. No entanto, a peça que fiz dessa maneira não saiu bem se encaixando nas outras feitas com camadas padrão de 20mm. Não quero dizer que não há situações em que a camada mais fina seja mais desejável; nesta simplesmente não funcionou. Além disso, preparei um arquivo para construir uma série de objetos ao mesmo tempo. Infelizmente, nas três tentativas, algumas das peças impressas simplesmente se soltaram, mesmo usando a cola bastão e, como uma doença contagiosa, acabou levando junto algumas das peças adjacentes. O plástico fica sambando na mesa aquecida e acaba formando um emaranhado que empurra as outras peças de seus lugares, até que tudo fica solto.

Tirando isso, as peças funcionam muito bem e até minha sobrinha de três anos, sob supervisão, já brincou e gostou delas. No futuro pretendo fazer mais, mas antes prefiro aprender a fazer moldes para resina e combinar as duas técnicas para acelerar a produção.

Claro que a notícia se espalha e os amigos batem na porta. Um deles, meu xará Eduardo, faz parte de uma ONG chamada Bike Anjo, que se dedica a ensinar crianças e adultos a andar de bicicleta. O projeto conta com a ajuda de muitas pessoas e, para agradecer uma delas, que fez uma doação de algumas magrelas, ele quis fazer uma placa. Como ele tinha experiência em modelagem 3D, só importei o projeto e coloquei na impressora. Deu para colocar todas as conversas em dia, fazer comida, comprar sorvete, ir buscar a sobrinha na escola, assistir filmes, além de várias outras coisas. A impressão durou cinco horas! Não que não soubéssemos que não demoraria, mas foi mais que o dobro do que eu havia estimado. Ainda não sei exatamente porque aconteceu essa demora, mas acredito que com os ajustes certos no software que prepara o arquivo de impressão, preenchimentos menos densos, por exemplo, seria possível diminuir consideravelmente esse tempo. Mesmo assim, a impressão não deu certo, porque ele havia usado letras pequenas e próximas demais. Tivemos que fazer uma segunda versão mais simples. Não sei se vai ser a última.

Além dos experimentos que já descrevi, comecei a ousar projetando uma peça plástica que havia se quebrado no meu carro. Nada muito complexo, apenas um prendedor da coifa de couro da alavanca do câmbio. Como era de se esperar, por ser uma primeira experiência, os problemas surgiram na primeira tentativa. A segunda teve mais sucesso, e até hoje está funcionando em meu carro. A segunda tentativa foi uma peça similar, só que para o freio de mão. Estou na terceira tentativa e até agora não tive algo próximo de sucesso. Como é um espaço mais estreito, não consegui ajustar a peça de primeira, e ela acabou quebrando quando tive que removê-la. A próxima versão vai usar menos pontos de fixação para que seja mais fácil removê-la e fazer ajustes.

Agora estamos, minha namorada e eu, tentando criar um suporte para microfones que ela possa usar em seu trabalho de medição de ruídos em edifícios. Por enquanto o modelo que fizemos quebra muito fácil e estamos pensando já na segunda versão.

Enquanto não completo a criação dessa peça, tive que atentar ao pedido especial de minha sobrinha que queria uma estrela para colocar na árvore de Natal. Então deixei de lado a criação e voltei à cópia. A estrela ficou perfeita e fez um sucesso enorme na nossa árvore de Natal.

O Thingiverse é um dos lugares mais ricos em ideias para se imprimir. No entanto, minha intenção é de aprender cada vez mais a usar softwares de 3D para criar objetos que sejam extremamente personalizados. Não posso dizer que impressoras 3D são para todas as pessoas. Há certos detalhes técnicos que podem fazer pessoas perderem horas, como por exemplo o nivelamento da mesa aquecida. Mas sem dúvida, para aqueles que tiverem mais interesse, é um mundo novo, cheio de possibilidades, capaz de materializar ideias e pensamentos com uma velocidade sem par na história da humanidade. Em outras formas mais amigáveis, provavelmente será um equipamento presente na casa no futuro. É uma nova onda e tenho um certo orgulho de dizer que sou um dos primeiros a usufruí-la.”

Abaixo, algumas das obras de Eduardo, assim como a impressora em operação.

 

 

 

*Eduardo é formado em Física pela Universidade de São Paulo. Técnico em eletrônica e empreendedor, ele atua como profissional independente de internet.

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