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O que é uma startup?

21 novembro, 2019
Maria Beatriz Vaccari e Sérgio Vinícius

Basta uma empresa de pequeno porte abrir as portas, principalmente no ramo de tecnologia, para que muita gente saia por aí chamando-a de startup. O problema é que esse termo, que se tornou queridinho do mercado, não necessariamente deve ser apontado como sinônimo de pequenas empresas. Até porque grandes corporações podem faturar milhões e, aos olhos de alguns empresários, continuar sendo startups.

A verdade é que existem várias formas de ver e entender o que é uma startup e quando ela deve perder essa característica para se tornar uma empresa consolidada. “Cada agente do ecossistema empreendedor tem uma visão diferente sobre esse processo de evolução”, explica José Carlos Aronchi, consultor do Sebrae. Esta reportagem visa explicar o que é uma startup, quais seus limites e em que momento uma companhia nova, inovadora e ligada à tecnologia deixa de ser uma startup e passa a ser considerada uma companhia “tradicional”.

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Startup: o que é e como funciona?

O que define uma startup?

1. Inovação: Uma startup precisa oferecer algo novo, que ainda não esteja disponível no mercado. Geralmente, serviços e produtos têm como objetivo resolver problemas ou facilitar o dia a dia das pessoas.


2. Ser repetível:
As startups devem ser capazes de aumentar a produção sem grandes dificuldades. O modelo de negócios repetível garante fabricação e entrega do produto ou serviço em qualquer escala.


3. Escalabilidade:
O modelo de negócios de uma startup precisa ser escalável. O objetivo é aumentar as receitas e, ao mesmo tempo, manter os custos baixos.


4. Incerteza:
É uma das principais características de uma startup. Por serem inovadoras, essas empresas entram no mercado sem a garantia de que suas ideias e produtos serão aceitos pelos consumidores.

Em primeiro lugar, é importante ter em mente quais fatores costumam caracterizar uma startup. “Existem muitas definições e pontos de vista para o termo, mas o contexto é quase sempre o mesmo: por trás dele deve haver tecnologia, inovação, empresas em estágio inicial e ambiente de extrema incerteza”, conta Danielle Vieira. Ela é uma das organizadoras do Google Business Group Sorocaba, empreendedora digital e fundadora do Startup Sorocaba. A empreendedora opta pela definição de Steve Blank, que afirma que uma startup é uma organização provisória que está em busca de um modelo de negócios viável e que seja repetível e escalável.

As startups não são necessariamente empresas de internet, embora seja mais comum encontrá-las nesse ambiente. “Acontece que, para escalar com velocidade, elas buscam desenvolver produtos que possam ser criados apenas uma  vez e, a partir daí, entregues para todos os clientes. É bem mais fácil fazer isso no mundo online do que no físico”, explica Ramon Kayo, fundador e diretor do Contate.me, especializada em comunicação para micro e pequenas empresas. “Para entender melhor esse conceito, vale a pena traçar um paralelo entre uma padaria e o Facebook, por exemplo. A padaria tem de fabricar um novo pão para cada cliente. Já a rede social desenvolve o código uma vez e entrega o mesmo sistema para todos os usuários.”

O esquema do modelo de negócios é outro fator que ajuda a diferenciar uma empresa tradicional de uma startup. “A padaria, o supermercado, a agência de publicidade e a mineradora de carvão, bem como a maior parte das empresas dos mais variados ramos, contam com sistemáticas de mercado em consolidados, que foram repetidamente testadas e validadas. No caso das startups, como elas estão à procura de inovação para escalar os negócios, há mais desafios do que certezas pela frente”, afirma Kayo.

Por conta disso, o especialista ressalta que a taxa de mortalidade de startups costuma ser maior do que a de empresas convencionais. Investir nesse modelo de negócios, portanto, é algo para quem não se importa de correr altos riscos.

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A hora da virada

Aos olhos de uma junta comercial, uma startup já nasce como empresa. “Esse termo não existe para eles. A partir do momento que o negócio recebe um CNPJ, é considerado uma empresa”, explica Aronchi. O consultor do Sebrae ainda ressalta que as startups não recebem nenhum tipo de incentivo fiscal que as torne diferentes de outros tipos de negócios.

“Toda startup nasce como uma hipótese que sonha ser validada. Permanecer nesse nível significaria continuar como uma proposta”, explica Kayo. O fundador da Contate.me ressalta que, no Brasil, não é comum que uma startup cresça exageradamente e se mantenha com essa alcunha, sobrevivendo só do dinheiro de investidores. No mercado norte-americano, porém, o cenário é outro. “Lá fora, existem startups com uma base enorme de usuários, milhões de dólares em investimento e que, por vezes, não contam sequer com uma linha de receita”, afirma.

Para o especialista, isso é a prova de que um negócio deixa de ser startup no momento em que se consolida financeiramente. “Quando a empresa encontra um modelo sustentável e escalável, o risco de mortalidade cai e ela ganha milhares de concorrentes. Assim, um novo mercado ou submercado é criado”, explica Kayo.

É preciso ter em mente, no entanto, que um modelo de negócios só se torna viável caso a solução proposta resolva um problema real. Além disso, é preciso haver um número suficiente de pessoas dispostas a pagar pelo serviço ou  produto e saber se é possível crescer exponencialmente. “Nem sempre é tão fácil quanto parece juntar uma ideia inovadora a um mercado potencial e um modelo operacional que se permita escalar. É por isso que muitas startups não viram empresas”, explica Vieira.

Ao longo do caminho para acertar o modelo de negócios da startup, muitos empreendedores passam por um processo no qual devem “pivotar” o projeto. Isso significa fazer ajustes contínuos para chegar mais próximo do sistema ideal, consolidando-se como uma instituição estabelecida, com mais maturidade.

“Quando a empresa chega a esse ponto de amadurecimento, ela começa a perder a condição de startup e se transforma em um modelo convencional. Mas é claro que a mentalidade inovadora pode permanecer entre os empreendedores e colaboradores, fazendo com que sempre exista o espírito de uma startup. Aliás, é muito saudável que os empreendedores, mesmo depois de estarem estabelecidos no mercado, continuem testando hipóteses, aprendendo sobre o produto e se adaptando de maneira ágil”, observa Kayo. Essa atitude pode até levar ao desenvolvimento de uma nova startup ligada à empresa.

DNA inovador

O Sebrae vê o assunto de outra forma. Para a instituição, o que define uma startup não é a quantidade de dinheiro que ela ganha nem sua concretização no mercado, mas o DNA que ela preserva. “Um negócio pode ser chamado de startup se a identidade dele for inovadora, se trouxer uma solução para algo, se tiver escalabilidade e se for aberto a investimentos”, explica Aronchi.

O especialista ressalta que, para o Sebrae, corporações como Google e algumas redes sociais nunca deixaram de ser startups. “Acreditamos que algumas empresas se mantenham nesse nível para sempre. Facebook, Easy e Uber são exemplos disso”, diz o consultor. O que prova que, independentemente da caracterização, o que importa mesmo para uma startup é inovar constantemente e estar aberta a novas fontes de receita.

Reportagem originalmente publicada na (hoje, descontinuada) Revista W, da Editora Europa, de novembro de 2015 – e gentilmente cedida a este site. À época, a equipe de redação era a mesma do 33Giga. O texto foi levemente atualizado, editado e modificado para atender ao meio digital e à possível defasagem de 4 anos. 

 

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