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Diana Assenato percebeu que tinha um olhar curioso para a tecnologia graças a alguns namorados. Quando criança, a garotinha achava o vídeo cassete um aparelho mágico. Ela cresceu e, após um mestrado em mídias digitais, percebeu que esse meio era para ela e que podia trabalhar com isso.
Criada pelos avós, Natasha Madov se considerava a ligação contemporânea dentro de casa. O fascínio pela tecnologia começou quando, ainda bem pequena, ela ganhou um terminal de vídeo texto que despertou seu interesse pelo assunto. Daí em diante, ela comprou um computador, instalou internet em casa assim que pôde e hoje tem o mesmo número de celular que tinha nos anos 1990.
Ambas muito curiosas e usuárias de tecnologia, Natasha e Diana são fundadoras do site Ada. O nome é uma homenagem a Ada Lovelace (na foto acima), a responsável pelo primeiro algorítimo para ser processado por uma máquina. Inspiradas por essa mulher poderosa, as empresárias querem ajudar mulheres a compreender e se inserir mais no mundo digital.
Para o Dia Internacional da Mulher, o 33Giga conversou com as fundadoras do site Ada. Além da inspiração para a página, elas também falaram sobre a falta de representatividade, preconceito e a relação da mulher com a tecnologia. Confira:
33Giga: Como surgiu o Ada.vc?
Natasha: Além do nosso interesse desde pequenas pelo assunto, já tínhamos a ideia de fazer algo que envolvesse tecnologia ligada aos assuntos de humanidades. Vimos que existem mulheres que nem sempre entendiam notícias e veículos focados em assuntos tecnológicos. Nós pensamos, então, em como é fácil ajudar essas pessoas as terem um conteúdo com um entendimento mais simples. Daí nasceu o Ada.
33Giga: Qual é o perfil da leitora do Ada?
Diana: A leitora da Ada é ligada em tecnologia, mas não é desesperada, aquela que precisa sair de casa para comprar um novo smartphone assim que ele é anunciado. Essa mulher ainda não lê resenhas, ela espera alguém indicar. É a mulher consumidora que não usa a tecnologia por prazer, mas sim pelo resultado prático, usar o WhatsApp, checar o e-mail. Nossa leitora tem uma visão muito utilitária da tecnologia.
33Giga: Além das notícias inéditas, o que mais as leitoras podem ter do Ada?
Natasha: Temos a Newsletter semanal na qual eu mando um apanhado de notícias as leitoras podem se interessar. Muitas vezes essa mulher pula os cadernos de tecnologia, então a gente separa as pautas sobre o assunto que farão mais sentido para ela. Geralmente são coisas mais gerais que façam parte do universo dela. Além disso, o Ada também mantém uma coluna na revista TPM.
33Giga: No site, vocês dizem que “apesar das mulheres serem digitais, nós não vemos o tema como nosso”. Por que isso acontece?
Diana: Quando decidimos testar o Ada, a Natasha fez uma pesquisa que mostrou que as mulheres estavam conectadas, mas não se sentiam tecnológicas. A gente se perguntou em que momento isso se descolava. Com base nesse resultado, decidimos falar para essas pessoas, trazer assuntos de forma mais natural para mulheres que, de alguma forma, já estão inseridas nesse cenário.
33Giga: O que mais essa pesquisa constatou?
Natasha: Eu perguntei para várias mulheres se elas liam sobre tecnologia e a resposta era sempre ‘não’. A justificativa era que elas não sentiam que aquele conteúdo era para elas. E o mais interessante é que essas mesmas mulheres têm um smartphone x com sistema operacional y que elas escolheram sozinhas com base em critérios tecnológicos muito específicos. E mesmo sabendo exatamente do que estavam falando, ainda não sentiam que aquele assunto era para elas.
33Giga: Há muito preconceito com mulheres que mantém uma relação minimamente próxima com a tecnologia?
Diana: Há um pré-conceito de que as mulheres não têm interesse nesse assunto. As revistas, por exemplo, querem falar para a maioria dos leitores que, sim, é masculina, mas nessa acabam excluindo o público feminino. Nos últimos 50 anos foi falado que nós não gostamos de tecnologia, de exatas, então se deduz que não gostamos mesmo.
Natasha: Só que as mulheres são basicamente a metade do mundo, então manter esse comportamento é marginalizar 50% da população mundial. Tem muita demanda, e a indústria criar um laptop pink não vai fazer ela se sentir mais inserida nesse contexto. O iOS sim, por exemplo, na minha percepção, abriu muito a demanda para as usuárias por ser um produto mais simples de usar, com uma comunicação por texto mais prática. Até porque a mulher é muito intuitiva para a tecnologia e aprende muito rápido.
33Giga: Hoje, qual é o papel da mulher para mudar esse cenário desequilibrado?
Diana: Muitos dos produtos de tecnologia são pensados por homens, reflexo de que não há muita força de trabalho feminina nessa área. Isso reflete diretamente nos produtos para esse público. Então, quando se tem mais mulheres pensando nisso, a tendência é que os produtos façam mais sentido para essa consumidora final.
33Giga: O que vocês acham que está faltando para que a mulher tenha mais espaço e aceitação nas áreas tecnológicas?
Diana: Ainda falta muita representatividade na força de trabalho. É preciso que as marcas conversem mais com esse público e trate como um nicho que pode render frutos.
Natasha: É necessário saber o que o público feminino quer e oferecer uma comunicação em torno do produto. Saber o que interessa e faz sentido para aquela mulher. A cultura está mudando, mas ainda falta um movimento de incentivo para inserir mais a mulher no cenário tecnológico.